domingo, 17 de maio de 2009

Por que motivo falar de avaliação é um trabalho de Sísifo (em Portugal)?



Porque vale tudo menos o método.
Começam amanhã as provas de aferição para o 1º e 2 º ciclos do Básico. Como qualquer instrumento padronizado de avaliação, há regras que têm de ser comuns a todas as circunstâncias.Por isso há apenas uma prova. Por isso os professores-classificadores passam por um processo de treino e certificação. Por isso há critérios unívocos de classificação e por isso há um Manual do Aplicador.
Sem consistência na aplicação e classificação não há fiabilidade. Sem fiabilidade não há validade nem comparabilidade, só a aparência (cínica) de se ter passado por um momento solene de "rigor", "responsabilização", "reconhecimento das aprendizagens", {inserir chavão aqui}.
No entanto, no entanto (como gosta de dizer o Prof. Jorge Miranda), do que se fala na véspera? Da representatividade do constructo? Do processo de criação e pilotagem das provas (para que não aconteçam lapsos como os do passado)? Da escolha dos tipos de itens incluídos nas provas e da sua validade de um ponto de vista cognitivo? Nop. Fala-se do desrespeito pela classe profissional.

Para Mário Nogueira é atentatório da dignidade dos professores, um atestado de menoridade às suas capacidades, que haja um documento que padroniza a linguagem que devem usar na aplicação das provas. E mais não disse. Veremos o que dirá nos próximos dias sobre os aspectos metodológicos das provas. Porque com toda a certeza que para se ser presidente de uma federação de sindicatos de professores há que, pelo menos em algum momento da vida, ter sido professor e, para isso, saber um niquinho que seja de avaliação educacional. O contrário seria um atentado de menoridade à inteligência dos cidadãos. E isso Mário Nogueira não faz. Nem quando, com toda a honestidade de raciocínio de que é capaz, associa este manual ao "desrespeito com que esta equipa ministerial tem vindo a tratar os professores".
E é uma tristeza que isto se passe assim porque mais uma vez o debate em torno das provas de aferição vai ser sobre tudo menos sobre o que é realmente curial: o método. E sobre o manual, cuja existência por si só já é de louvar, muito haveria a dizer: por exemplo sobre o vocabulário e a fraseologia empregues, cuja adequação a mim (que não sou professor do 1º ciclo do Básico) me causa algumas dúvidas.
Mas deixemos lá isso. O que interesa é adequar métodos e dados aos resultados, sobretudo os de "dignidade" dos professores. Disso cura e sabe Mário Nogueira. Para isso, vale tudo. Menos o método.