segunda-feira, 9 de março de 2009

Do Magalhães e da Fé.

Depois do lançamento do Magalhães, há já quase um ano, muito se escreveu sobre o folclore associado ao mesmo. Os episódios sucederam-se: a máquina nacional que afinal é concebida nos EUA, fabricada em partes por esse mundo fora e montada à pressa em Portugal, a distribuição em que se 'desofereciam' as máquinas depois de os media abandonarem a cerimónia, as acções de formação com direito a ‘oficinas de aprendizagem’ em que se compunham odes ao Magalhães, os assessores ministeriais que fazem o seu 'assessoral' trabalho no Magalhães, o caudilho sul-americano que se congratula com a robustez física do equipamento, as crianças que cobiçam (sabe Deus com que desespero) as máquinas que não têm e que o colega exibe.
Folclore à parte, o último episódio seria a gota de água que faria transbordar o copo de uma história isenta de episódios edificantes, não fora o facto de, aparentemente, já ninguém esperar que nada de positivo venha do Magalhães, do Ministério da Educação e, supõe-se, de quem tem de gerir os negócios da nação. A história resume-se em duas linhas: o Magalhães é distribuído com o sistema operativo Caixa Mágica (um dos muitos derivados do GNU/Linux) que inclui um programa, dito didáctico, com erros de gramática chocantes. Há muitas maneiras de olhar para a questão, muitos argumentos e contra‑argumentos a esgrimir mas o facto é que, num país em que se impõe a certificação dos manuais escolares, o mais ‘revolucionário’ dos instrumentos pedagógicos, distribuído pelo próprio Ministério da Educação, tem conteúdos escritos por gente iletrada em Português. Isto deveria ser o suficiente para alguém perder o emprego mas como veremos não é.